O projeto de poesia dentro das unidades prisionais do Amazonas, desenvolvida pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) e Umanizzare Gestão Prisional, surgiu com o objetivo de levar as pessoas privadas de liberdade para um ambiente onde pudessem expressar seus sentimentos. Mas, o projeto acabou surpreendo os organizadores, quando surgiu a ideia dos próprios reeducandos à possibilidade escrever um livro.
De acordo com a psicóloga Simone da Silva, do Instituto Penal Antônio Trindade (IPAT), essa foi à primeira vez que o projeto aconteceu na unidade prisional, segundo ela, nesse primeiro momento, um total de 30 internos participaram do evento, sendo 10 de cada pavilhão: ‘A’, ‘B’ e ‘C’.
“Os reeducando fizeram às poesias e apresentaram para uma bancada avaliadora, formada por um corpo técnico que trabalha dentro da unidade. Para essas pessoas que participaram do evento, os vencedores tiveram uma premiação, algo simbólico”, comenta Simone.
A psicóloga explica que, como critério de escolha, os organizadores do projeto de poesia, escolheram os reeducandos que não recebem família. Ela argumenta que a aceitação por parte dos reeducandos foi bastante solicita.
“Ficamos bastante surpresos, nós não esperávamos a aceitação que teve. Trabalhamos com um público diferenciado, em um ambiente que é bastante tenso. Então, do nada, ficamos surpresos com alguns textos, eram escritas que falavam e amor, de querer ver bem”, indaga.
Simon disse, ainda, que teve reeducandos que chegaram a pedir para fazer mais poesias, e até propor para escrever um livro. Segundo ela, o projeto apresentou os resultados esperados, que estão relacionados ao resgate do cidadão.
“Eles foram de uma sensibilidade tamanha, nas palavras, é claro, teve algumas coisas bobas. Mas, aqueles que se dedicaram, mostraram um bom resultado. Nós ficamos muito felizes, pensamos em mirar em um alvo e acertamos em algo bem maior”, disse.
Simone explica que o objetivo é dar continuidade nas atividades de elaboração de poesias. “Quando pensamos em levar à ideia do projeto, nos perguntávamos como iríamos levar a proposta para os homens, a nossa percepção é que eles não iriam aceitar a ideia. Mas, dentro da simplicidade deles, foram surpreendentes, maravilhosos”, conta a psicóloga com brilho nos olhos.
Na Unidade Prisional de Itacoatiara (UPI) – município a 176 quilômetros de distância de Manaus -, o projeto de poesia também apresentou resultados bastante positivos, como explicou a assistente social Ana Maria Bezerra. Ela conta que na UPI, o projeto acontece uma vez por ano.
“Duas turmas foram feitas, sendo uma no período da manhã e outra pela parte da tarde, em um total de 30 reeducandos distribuídos nos dois horários”, disse a assistente social.
“Para diferenciar dos demais anos, a assistente social conta que foram selecionados reeducandos estudantes”, comenta Ana.
Ana explica que, também, como no projeto de poesia desenvolvido na capital amazonense, na UPI foi criada uma banca examinadora que avaliou os textos construídos pelos presos. Ela conta que vários autores da cidade e professores dos reeducandos compuseram a bancada avaliadora.
“A bancada avaliou a postura e a autoria da própria poesia que foi elaborada pelos reeducandos. Para os melhores textos, houve uma pequena premiação simbólica”, afirma a profissional.
Ana conta que o projeto acontece uma vez por ano, geralmente do dia nacional da poesia. Mas, segundo ela, este ano foi feito no dia 10 de outubro, uma data que foi fixada no calendário anual de eventos da Umanizzare dentro das unidades prisionais.
“Em outro momento, durante um evento que promovemos dentro do presídio, um dos reeducandos que participaram do projeto de poesia escreveu um novo texto para apresentar naquele momento. Então, observamos que esse projeto despertou o sentimento de serem autores de novas obras”, comenta.